Deputado vive nos EUA desde o início do ano, está ausente do plenário há quase dois meses e agora é nomeado líder da Minoria — numa manobra que Hugo Motta ainda não endossou.
Ausente do Brasil, fora das sessões do Congresso e sem registrar presença desde julho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foi nomeado pelo seu partido como líder da Minoria na Câmara dos Deputados. A movimentação do PL tem objetivo claro: evitar a cassação de seu mandato por faltas reiteradas — apesar do completo abandono de suas funções parlamentares.
Eduardo está nos Estados Unidos desde o início do ano. Sua última participação efetiva na Câmara ocorreu antes de uma licença, encerrada em 20 de julho. Desde então, acumula ausências que o colocam em risco de perda de mandato, conforme previsto na Constituição para parlamentares que faltam a mais de um terço das sessões ordinárias.
Para tentar contornar o problema, a cúpula do PL recorreu a um expediente regimental: um ato da Mesa Diretora de 2015, que permitiria a líderes partidários e membros da Mesa não registrar presença nas sessões em razão das “atribuições do cargo”. O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), confirmou que a decisão foi estratégica e alegou base legal na norma.
No entanto, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), até o momento não oficializou a nomeação e nega ter participado da articulação. Sua postura cria um impasse: sem o aval da presidência, a liderança de Eduardo não se consolida, e o risco de cassação continua real.
A tentativa do PL de blindar um deputado que abandonou o cargo e opera no exterior contra o próprio país escancara os limites da ética parlamentar no Brasil. Ao transformar uma liderança legislativa em escudo pessoal, o partido não apenas desafia a Constituição, mas também subverte o sentido do mandato popular.
O contraste com o caso de Jean Wyllys é inevitável. Em 2019, o então deputado do PSOL renunciou ao mandato e deixou o Brasil após ameaças de morte, sendo rotulado por adversários como “fujão”. Mas Wyllys não manteve privilégios nem salários, tampouco usou recursos públicos para conspirar contra o país. Eduardo, por outro lado, segue bancado pelos cofres do Congresso — mesmo longe, mesmo ausente, mesmo contra o Brasil.
E enquanto Hugo Motta hesita em endossar a manobra, o país assiste a mais um capítulo de degradação institucional — em que a ausência vira estratégia e a impunidade, método.