Soja dos EUA perde espaço para o Brasil na China e produtores pedem socorro a Trump

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Tarifas impostas por Pequim tornam grão americano até 34% mais caro, e agricultores acusam abandono em carta ao ex-presidente..

Os produtores de soja dos Estados Unidos vivem um momento de crise. Em carta enviada nesta terça-feira (19) ao ex-presidente Donald Trump, a American Soybean Association (ASA) fez um apelo por ajuda urgente, alegando que a soja brasileira tomou de vez o lugar do grão norte-americano nas encomendas da China — maior compradora mundial.

O motivo é claro: as tarifas retaliatórias impostas por Pequim. Com a sobretaxa de 20%, que pode elevar o custo total da soja americana em até 34% após impostos, o grão dos EUA perdeu competitividade em relação ao produto da América do Sul, especialmente o brasileiro. “Historicamente, os Estados Unidos eram o fornecedor de preferência dos clientes chineses”, afirma a carta. “Mas agora, nossos clientes de longa data na China têm recorrido — e continuarão recorrendo — ao Brasil.”

A ASA alerta que os agricultores norte-americanos estão “à beira de um precipício comercial e financeiro”. Segundo a entidade, a ausência de um novo acordo comercial com a China, que inclua compromissos firmes de compra, pode resultar em prejuízos duradouros para o setor. “Quanto mais avançarmos sem um acerto sobre soja, piores serão os impactos”, diz o documento.

A dinâmica do comércio global de soja já havia mudado com a guerra comercial entre Washington e Pequim, mas agora se consolida. Tradicionalmente, a China importava a soja brasileira no primeiro semestre e recorria aos EUA no segundo. Esse ciclo está rompido: a China já contratou a produção brasileira para os próximos meses, deixando os agricultores norte-americanos à espera de compradores.

Além da perda de mercado, os produtores enfrentam queda nos preços, aumento dos custos operacionais e incerteza sobre o futuro. A ASA afirma que não houve nenhuma pré-compra da nova safra pelos chineses, o que sinaliza uma retração preocupante na demanda.

Segundo dados da própria associação, a China respondeu por 54% das exportações de soja dos EUA na safra passada, movimentando US$ 13,2 bilhões. A perda desse mercado compromete a saúde financeira de milhares de famílias agrícolas em estados como Iowa, Illinois e Nebraska — redutos tradicionais do agronegócio e também eleitorais de Trump.

Enquanto isso, o Brasil amplia sua presença global como principal fornecedor de soja, colhendo os frutos da guerra comercial que reposicionou as cadeias de suprimento. Para os produtores dos EUA, resta agora pressionar por uma solução diplomática — e rápida — antes que o prejuízo se torne irreversível.

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