Força-tarefa flagra condições degradantes em canteiros de obras; trabalhadores vinham do interior da Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e até do Rio de Janeiro.
Uma megaoperação do Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM) resultou no resgate de 112 trabalhadores que viviam e trabalhavam em condições degradantes em obras da construção civil nas cidades de João Pessoa e Cabedelo. A ação, que aconteceu entre os dias 14 e 23 de julho, contou com a participação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério Público do Trabalho (MPT), Defensoria Pública da União (DPU), Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal.
Os trabalhadores atuavam em obras de oito construtoras diferentes — muitas delas responsáveis por edifícios de alto padrão em bairros como Manaíra, Poço e Ponta de Campina. Apesar do luxo dos empreendimentos, a realidade nos bastidores era cruel: alojamentos precários, comida escassa, falta de saneamento e riscos diários à saúde e à vida.
Segundo os auditores, muitos dormiam em colchões rasgados jogados no chão, dentro da própria obra, sem ventilação, com banheiros improvisados ou até sem acesso a banheiro. “A alimentação era mínima. Alguns relataram que recebiam só um ovo pela manhã e nada à noite. Trabalhando com cimento, ferro, peso e calor, sem proteína, sem descanso. Era desumano”, disse a procuradora do Trabalho Laura Valença.
As fiscalizações flagraram trabalhadores de todas as idades — desde jovens de 18 anos até homens com mais de 60 anos. Entre os resgatados estavam moradores de Alagoa Grande, Gurinhém, João Pessoa, Campina Grande, Guarabira, Sousa, Ingá, Mulungu, Pilar, Pilões, Cruz do Espírito Santo, Itabaiana, Mari, Mogeiro, Areia, Caaporã, Caldas Brandão, Juarez Távora, São José dos Ramos, Sobrado e Aparecida, na Paraíba; além de trabalhadores vindos de Recife, Jaboatão dos Guararapes, São José do Egito e Brejinho, em Pernambuco; Natal, no Rio Grande do Norte; e até do Rio de Janeiro.
De acordo com a auditora fiscal do Trabalho Gislene Stacholski, mais de R$ 700 mil em verbas rescisórias já foram pagos, e outros valores ainda serão quitados. As empresas responsáveis foram notificadas, e cinco delas assinaram Termos de Ajuste de Conduta (TAC), comprometendo-se a corrigir as irregularidades e pagar indenizações por danos morais coletivos e individuais. Três empresas que se recusaram a firmar acordo serão alvos de medidas judiciais.
A defensora pública federal Izabela Luz reforçou a gravidade da situação: “As condições sanitárias eram insalubres. Alguns trabalhadores compravam ventiladores do próprio bolso porque as empresas não forneciam. Outros dormiam em calor extremo, amontoados”.
Com esses novos 112 resgatados, o número total de trabalhadores em condições análogas à escravidão na Paraíba em 2025 sobe para 225 — um aumento de mais de 300% em relação a todo o ano de 2024, quando 53 pessoas foram resgatadas.
A maior parte dos casos este ano ocorreu justamente na construção civil, concentrada em João Pessoa e Cabedelo. A operação reforça a necessidade de fiscalização contínua, especialmente em setores que ainda insistem em práticas abusivas e ilegais.
“Esses trabalhadores estão construindo os prédios de luxo da nossa orla, mas viviam como se não tivessem valor nenhum”, resumiu uma das autoridades da operação.
De onde vieram os trabalhadores resgatados?
1. Alagoa Grande (PB)
2. Alagoinha (PB)
3.Aparecida (PB)
4. Areia (PB)
5. Brejinho (PE)
6. Caaporã (PB)
7. Caldas Brandão (PB)
8. Camaragibe (PE)
9. Campina Grande (PB)
10. Cruz do Espírito Santo (PB)
11. Guarabira (PB)
12. Gurinhém (PB)
13. Ingá (PB)
14. Jaboatão dos Guararapes (PE)
15. João Pessoa (PB)
16. Juarez Távora (PB)
17. Mari (PB)
18. Mogeiro (PB)
19. Mulungu (PB)
20. Natal (RN)
21. Pilar (PB)
22. Pilões (PB)
23. Recife (PE)
24. Rio de Janeiro (RJ)
25. São José do Egito (PE)
26. São José dos Ramos (PB)
27. Sobrado (PB)
28. Sousa (PB)
LEVANTAMENTO – RESGATES NA PARAÍBA
ANO DE 2025: 225 trabalhadores resgatados
JANEIRO 2025 – (Não houve resgate na PB)
FEVEREIRO 2025 – 59
59 RESGATADOS – JOÃO PESSOA e CABEDELO – CONSTRUÇÃO CIVIL (Os resgates ocorreram em obras de prédios de luxo no bairro de Manaíra, na Capital, e nas praias do Poço e Ponta de Campina, no litoral de Cabedelo, entre os dias 3 e 5 de fevereiro).
MARÇO 2025 – 12
12 RESGATADOS – Sendo seis em uma PEDREIRA de CAIÇARA e seis em OBRAS de CALÇAMENTO com paralelepípedos em SERRA BRANCA, no Cariri paraibano.
ABRIL 2025 – (Não houve resgate na PB)
MAIO 2025 – 33
33 RESGATADOS – CABEDELO (CONSTRUÇÃO CIVIL) – Os resgatados trabalhavam em obras de três construtoras, nas praias de Formosa e Camboinha.
JUNHO 2025 – 9
9 RESGATADOS EM JOÃO PESSOA (CONTRUÇÃO CIVIL).
JULHO 2025 – 112
112 RESGATADOS – JOÃO PESSOA E CABEDELO (CONSTRUÇÃO CIVIL) – Os resgatados trabalhavam em obras de 8 EMPRESAS.