Mesmo após ser um dos principais nomes da delação da Operação Calvário, Livânia Farias é integrada a grupo estratégico do Ministério da Saúde.
Uma das figuras centrais da Operação Calvário, que revelou um dos maiores esquemas de desvio de recursos públicos da história recente da Paraíba, a ex-secretária estadual Livânia Maria da Silva Farias voltou a ocupar espaço nos bastidores do poder. Em 25 de julho de 2024, ela foi oficialmente nomeada para compor um Grupo de Trabalho (GT) do Ministério da Saúde, conforme consta na Portaria SVSA/MS nº 79, publicada no Diário Oficial da União.
O GT foi criado para aprimorar a análise de propostas de emendas parlamentares ligadas à vigilância em saúde e ambiente, ou seja, trata diretamente da aplicação de recursos públicos oriundos do Congresso Nacional. O convite partiu do Secretário Adjunto da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA), Rivaldo Venâncio da Cunha, responsável por coordenar os trabalhos do grupo.
Além de Livânia, compõem o GT técnicos de diversas áreas da SVSA. O grupo tinha atuação prevista por 60 dias, podendo ser prorrogado, e foi instituído sem previsão de remuneração extra. Apesar de a função ter sido exercida ainda no segundo semestre do ano passado, não há registros públicos de que Livânia tenha sido exonerada ou substituída formalmente até o momento, o que levanta questionamentos sobre sua permanência nos quadros.
Livânia Farias ganhou notoriedade nacional ao firmar acordo de delação premiada no âmbito da Calvário, revelando detalhes do esquema que envolvia desvio de verbas milionárias da saúde e educação, com ramificações em vários estados e fortes repercussões políticas. À época, foi presa e afastada de suas funções no Governo da Paraíba, onde atuava como secretária de Administração.
A nomeação — mesmo que temporária — reacende o debate sobre os critérios de escolha de integrantes para funções estratégicas no Governo Federal, sobretudo em áreas sensíveis como o controle de verbas públicas. O fato de uma das principais delatoras de um escândalo financeiro ocupar posição de confiança em um grupo voltado ao trato de emendas parlamentares é visto como um indicativo de que a linha entre responsabilidade e reabilitação institucional segue tênue em muitos setores da administração pública.
A SVSA/MS e o Ministério da Saúde ainda não se pronunciaram sobre os critérios que embasaram o convite à ex-secretária paraibana.
